“Núcleo social de pessoas, unidas por laços afetivos, que geralmente compartilham o mesmo espaço e mantêm entre si uma relação solidária”.
Esse é o conceito da palavra família segundo o Dicionário Houaiss.
Esse cantinho foi pensado e tem sido feito com enorme carinho por nós, Raquel e Graciéli, para compartilhar amor. Estamos em tempo de florescer. Nossa família já existe, mas desejamos muito aumentá-la. Um desejo que surgiu bem antes de sermos nós, já era um querer individual. Nossa união fortaleceu nossos desejos e cá estamos, gestando essa enorme vontade de viver, além da relação de casal, a parental, a maternidade pela via da adoção.
Acredite: laços de afeto e amor podem ser ainda mais fortes do que os de sangue. A criação dos vínculos de afetividade vão para além da genética.
Inconscientemente, boa parte das pessoas, em algum momento da vida, têm ímpetos de cuidar, criar, educar e participar do crescimento de outro ser. Nesse desejo não está incluída, necessariamente, a vontade de gerar biologicamente o ser que será criado. Seja qual for a forma de ter um filho, a responsabilidade é a mesma.
Carência? Medo da solidão? Filantropia? Por que adotar?
Bom, nossa resposta é bem simples, a maternidade! Queremos ser mães! Isso é possível de algumas formas e a nossa é pela via da adoção. Aproveitando, não é educado falar “mãe adotiva”, é mãe! As crianças não são “filhos adotivos”, são filhos!
O preparo emocional pré-adoção é muito importante e diverso.
Nós buscamos orientações fundamentais pra esse momento. Procuramos apoio de:
1. Grupo de apoio à adoção - Nascor @nascor_nascidos_do_coracao;
2. Inúmeros perfis de especialistas nas redes sociais;
3. Vários livros sobre adoção;
4. Podcast - Só mãe tá bom.
5. E do nosso querido psicólogo Bruno Rodrigues, que tanto nos tem ajudado a montar o ninho emocional para a chegada dos nossos desejados “Cosme e Damião”.
Ah! Essa é a forma que carinhosamente chamamos nossos filhos nesse período de espera. Preenchemos o nosso perfil à adoção com dois meninos, de preferência irmãos, portanto nascerão, pra nós, juntos. Os meninos gêmeos. A forte tradição, em Salvador, do caruru de 7 meninos, em setembro, mês que se festeja São Cosme e São Damião só contribuiu pra relação em tom de brincadeira sobre nossos pequenos.
Falando nisso, outra opção no perfil deles foi a idade: entre 3 e 8 anos de idade. O que pode ser chamado de Adoção Tardia ou Adoção de Crianças Maiores. Teoricamente, temos um perfil mais amplo e que foge dos mais procurados pelos pretendentes: dois meninos, de preferência, irmãos, de 3 a 8 anos de idade, negros, em Salvador e região metropolitana.
Você conhece o andamento de um processo de adoção?
Bom, de forma breve, explicaremos os passos de um processo de adoção pela visão jurídica. A primeira etapa é estar habilitada e começa assim:
Os adotantes entram em contato com a Vara de Infância de sua comarca, depois recebem uma lista de documentos para apresentar. Após ser entregue, juiz e ministério público analisam os documentos e aí inicia, de fato, o processo. Por um despacho o juiz encaminha para as entrevistas do serviço de psicologia, serviço social e um curso para pretendentes à adoção ministrado pelo juizado. Passada essas etapas, sai o parecer de habilitados ou não à adoção. Será o nosso positivo! A partir daí entramos na fila de cadastro do Sistema Nacional de Adoção (SNA) para aguardar crianças que estejam no nosso perfil. Uma gestação sem data certa para acabar.
Um dia o telefone tocará, será a tão aguardada ligação, pronto, a “bolsa estourou”! Nos será passado um breve relato sobre as crianças e a pergunta se queremos seguir com o processo. Acenando que sim, iniciará o Período de Aproximação. Iremos ter um tempo para nos conhecer, mas com a criança ainda vinculada à instituição que a abriga. No início uma visita, mais um pouco e um passeio fora da instituição, depois um final de semana na nossa casa e dessa forma um início de convivência para se estabelecer vinculação entre nós. Assim iremos até que entrarmos em sofrimento, ou seja, voltar para o abrigo depois de passar um período conosco será sofrimento pra eles e para nós. Pronto, será a hora do próximo passo.
Entraremos no Estágio de Convivência. As crianças vão pra nossa casa, teremos a guarda provisória deles. É feito o acompanhamento do serviço social até que se perceba que os vínculos afetivos foram estabelecidos e o juiz nos passa a guarda definitiva. E só aí… Enfim, nossos filhos.

A professora Hália Pauliv de Souza tem duas filhas adotivas e é autora do livro “Adoção – Exercício da Fertilidade Afetiva” (Ed. Paulinas), ela diz que muitos pretendentes fantasiam um filho sonhado, mas o que existe é uma criança real. Como a realidade não corresponde ao idealizado, devolvem a 'criança-objeto’”, lamenta Hália. “É importante lembrar que filho é para toda a vida, não tem certificado de validade e, sobretudo, vai crescer e se transformar em adulto”, diz. Preparar o quarto, comprar roupas e brinquedos para esperá-los é gostoso, mas não é tudo. Para quem vai iniciar o processo de adoção ou já está aguardando a criança chegar, buscar ajuda, saber as reais dificuldades e estar preparado para elas é mais valioso do que qualquer móvel ou presente. Por isso o apoio especializado tem nos ajudado taaaaaaaanto!
As particularidades de um filho pela via da adoção, principalmente, a tardia, nos leva à reflexão de que eles chegarão com uma história de vida. E se foram destituídos da família de origem, o que viveram, provavelmente, não foi bom. Mas pertence a eles! Não podemos e nem queremos apagar o que foi vivido. Pedimos que não perguntem, que deixem que eles, um dia, se sentirem vontade de falar algo, falem. E que construam laços e uma história com eles daqui pra frente.
Nosso papel, especialmente, nessa chegada deles é de acolhida, de criação de vínculos, de estabelecer uma relação de confiança. Confiança de que estes laços serão definitivos, de que eles não passarão por um abandono ou rejeição. Por isso, outra particularidade orientada é que tenhamos um resguardo com as crianças, afinal de contas, estaremos nos conhecendo e nos reconhecendo enquanto família. Embora a vontade seja de dar uma festa e de reunir o mundo para mostrar para todos nossos pequenos, o tempo será de recolher, de nos fortalecermos, de criar vínculos e confiança para só mais tarde reunir e festejá-los no meio de todas as pessoas que amamos e que queremos participativas conosco.
Uma parte importante que aprendemos e é válido falar é sobre o “teste do apego”, já ouviu falar? Bom, se não ouviu, vou te explicar. O teste do apego é quando, por medo e insegurança de novo abandono, a criança provoca os pais, a família ou quem está responsável por ela. Provoca? Como assim? Provoca com indisciplina, respondendo, sendo agressiva… enfim, comportando-se da pior forma. E isso pode acontecer depois de um dia muito feliz, depois de um passeio muito legal ou no meio da noite de Natal com tudo lindo e maravilhoso. Sabe o que acontece na cabecinha deles? Bom, eles acham que tá bom demais e que isso é temporário, porque, de alguma forma, eles se culpam por terem perdido a família de origem. Então, se eles não terão isso pra sempre, vão fazer por onde terem o controle da situação, ou seja, agem com rebeldia pra justificar a provável rejeição por parte dos adotantes. Entendeu? Eles testarão até onde vai o nosso amor por eles. Testarão se bastará uma tolice, um erro, uma falha deles para que uma devolução aconteça e eles retornem ao abrigo. Os testes terão fim quando eles sentirem que é pra sempre, que estaremos com eles pra o que der e vier.
“Gerar uma criança nos torna genitores,
somente seremos pais de uma criança se a adotarmos afetivamente”.
Suzana Sofia Moeller Schettini.
Os especialistas fazem coro para dizer: “O comportamento dos filhos pela via da adoção e filhos biológicos é o mesmo”. Nem pense que há diferença na hora de colocar limites nas crianças. Os responsáveis hão de ser firmes, demonstrando que eles não podem usar esse assunto para burlar as regras, mas pedimos, principalmente para família e amigos que terão a oportunidade de acompanhar mais de perto a chegada das crianças, que tenham um pouquinho de sensibilidade e paciência, principalmente se identificar que é um comportamento teste. Além disso, dividimos outro aprendizado que o Bruno, nosso psicólogo nos passou: “Às vezes, não é que a criança esteja sendo mal educada, é que ela não foi educada!”. Por isso, se presenciar algo, antes de repreender, oriente.
O desafio é grande, sabemos, e estamos só no começo dessa jornada, mas ansiosíssimas pra viver todo o furacão emocional e a corrida maluca de atender as demandas todas que envolvem a maternidade. Obrigada pelo apoio que temos recebido, a espera é angustiante demais, mas a preparação se faz extremamente necessária pra que esse encontro se dê da forma mais leve e especial possível.
Nosso desejo, ao compartilharmos esse momento com você, é que seja ninho conosco. Estamos nos preparando, aprendendo muito sobre particularidades desse maternar e dividir o conhecimento com vocês nos faz acreditar que a acolhida será concretizada com muito carinho.
Com todo nosso amor e muitos agradecimentos,
Raquel e Graciéli